domingo, 24 de julho de 2016

A ILHA DO CORVO QUE VENCEU OS PIRATAS (6)


AS CASAS NO SÉCULO XVII NA ILHA DO CORVO

Na Ilha do Corvo as casas foram construídas com pedras da lava do vulcão e muitas subsistiram até aos nossos dias. Mas foram sofrendo alterações ao longo dos séculos.
Para reconstituir essas habitações à época em que decorre a história em quadrinhos, um dos simpáticos coordenadores científicos, João Saramago, foi incansável na recolha de documentação.
Quando estive na Ilha, conduzido pelo Eduardo Guimarães coordenador do Eco Museu, observei por fora e por dentro, casas muito antigas, algumas abandonadas e em ruína, no entanto já apetrechadas com chaminé e janelas, o que não acontecia há quatro séculos.
Podemos ver (à esquerda) a foto de uma habitação ainda existente em Ponta Delgada, com cobertura de colmo. Eram cobertas desta maneira todas as casa no Corvo em 1632.
A outra foto mostra a parede de uma habitação do Corvo (veja-se a diferença na pedra). Naturalmente que hoje são já cobertas com telha de barro.

Segundo descrições, tracei este esboço (ver figura em baixo) de como seria a casa comum. Telhado de duas águas ocupando um espaço rectangular, com um estrado na parte superior onde funcionavam os quartos de dormir cujo acesso se fazia internamente por uma escada. A parte da cozinha não era coberta pelo estrado para facilitar o escoamento dos fumos.

No mesmo cróqui fui esboçando a forma como seria o lar, que o João Saramago ia acompanhando e fornecendo novos dados.
Enviou-me uma foto que embora recente, mostra ainda a forma de um lar antigo, e outra onde se vê ao lado do lar a porta do forno, que se expandia normalmente para o exterior.


Por fim fiz este desenho que foi aprovado pelos consultores.

A partir daqui construí as imagens da narrativa gráfica, que junto.
Nas vinhetas já acabadas a tinta-da-china mostro a reconstituição da cozinha com o lar, vendo-se uma das personagens a descer dos quartos implantados no piso superior.

Noutra vinheta, pertencente a uma página mais adiante na história, pode ver-se melhor o lar. Sobre um banco está uma tigela de barro com «graxa» (gordura) do pássaro «Angelito», que por meio de um pavio funciona como lamparina.
O vidro não chegava à Ilha, não só por ser caro mas sobretudo devido à sua fragilidade. Pela força do vento que sempre assolou o Corvo não era possível abrir janelas nas paredes, por não haver possibilidade de lhes aplicarem uma proteção transparente que deixasse entrar a luz, e protegesse do frio. Por isso elas não existiam havendo apenas uma fresta no topo da empena, para que os fumos do lar saíssem.
Este pormenor chegou ao meu conhecimento depois de ter avançado com o «acabamento» da página 01, que como já expliquei, foi motivado pela necessidade de mostrar rapidamente à interessada população da Ilha qual o aspeto de uma prancha completa. Mas sempre foi provisória.
Por isso voltarei a modificar a primeira página onde incluí janelas nas casas, como a alterara já em relação ao aspeto da Ermida.
Os elementos históricos são uma matéria viva, sempre em atualização conforme as descobertas que se vão fazendo.
No próximo artigo os caros leitores deste BDBD Blogue irão tomar conhecimento das pesquisas efetuadas sobre que tipo de navios os piratas argelinos utilizavam na época para se fazerem ao Atlântico.

Um abraço
José Ruy
15 de julho de 2016

4 comentários:

  1. É delicioso ver um Autor com esta craveira, como é o José Ruy, vir publicamente reconhecer lapsos que, depois de alertado para eles, os corrige. Normalmente, os autores reservam-se nestes pormenores ou, o que é pior, nem sequer corrigem.
    Parabéns ao José Ruy pela sua arte e honestidade, pela sua grande obra e pelo contributo que dá, com o seu exemplo, para dignificar a BD.
    Sobre este pormenor das correcções, que os leitores poderão achar de fácil concretização, tenho a dizer que não é fácil corrigir, porquanto é necessário refazer a vinheta e, por vezes, a própria prancha. Se for a cores, então...
    Ainda sobre este assunto, felizmente para mim tive, tal como o José Ruy, pessoas que me auxiliaram na chamada de atenção para pormenores em duas obras que foram publicadas da minha autoria.
    Uma delas, na úlbum "D. Egas Moniz, o Aio", o historiador da cidade de Lamego chamou a atenção para um erro que cometi na igreja de Almacave, a página 13, pois que a tinha desenhado tal e qual a vi actualmente, com a torre sineira, quando na altura do argumento, ela não tinha este complemento (monumento românico). Como o álbum é a cores, a página teve de ser refeita.
    Na outra, "A Viúva do Enforcado", o historiador da Câmara do Fundão alertou-me para o caso de ter desenhado uma praça com um edifício que não existia na altura do enredo (o Casino Fundanense), mas como a obra já se encontrava na gráfica, com toda a honestidade que lhe é peculiar,o historiador levou esse alerta ao prefácio.
    Também é de grande exemplo, de grande critério e honestidade, o caso do grande Autor Baptista Mendes que pesquisou in loco para a sua obra sobre Trancoso, tendo até o cuidado de me remeter as pranchas originais, para eu, que aqui resido há muito, apontar deficiências de pormenor, designadamente em monumentos.
    A Banda Desenhada, nos seus bastidores, tem muito trabalho e, quando é exercida com rigor, muito sacrifício que muitas vezes não é pago e, muito pior, nem reconhecido, deixa a garantia de qualidade que apraz registar

    Um abraço especial para o José Ruy
    Um abraço para o Luiz Beira e Carlos Rico

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  2. Caríssimo Santos Costa, é reconfortante ler uma apreciação de reconhecimento vinda de quem vem, conhecer profundo destas artes e das dificuldades dos bastidores.
    Neste caso do «Corvo», estamos em plena construção, e estas divulgações são fruto do desejo do Carlos Rico e do Luiz Beira em mostrar precisamente que criar uma «coisa» destas não é «pera-doce».
    Quando tinha os meus 18 anos realizei uma BD do «O Bobo» de Alexandre Herculano para o «Cavaleiro Andante» e ingenuamente segui o romance do Escritor. Uns anos mais tarde um editor mostrou desejo de publicar a história em livro, mas nessa altura eu tinha já reconhecido o anacronismo do Herculano, que contou uma história passada no século XII descrevendo o castelo de Guimarães como ele o encontrou no século XVIII. Resolvi refazer toda a BD, repondo a verdade histórica.
    Obrigado pelas suas apreciações sempre bem recebidas, o que significa que está atento. Desejo-lhe bom trabalho.
    Abraço
    José Ruy

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  3. Caro José Ruy,

    Gostaria mais uma vez de o felicitar por esta excelente iniciativa, bem como o BDBD que publica estes e outros posts.
    Num post anterior sobre A ILHA DO CORVO QUE VENCEU OS PIRATAS, penso que foi logo o primeiro, perguntei quando seria publicada a obra, ao qual me respondeu que seria em Setembro/Outubro.

    Gostaria pois de saber se está prevista uma sessão especial para o lançamento do livro com a sua presença?

    Cumprimentos,

    Mário Lisboa

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    1. Meu caro Mário Lisboa
      Realmente tenho programado terminar a história «A Ilha do Corvo que Venceu os Piratas» em setembro deste ano de 2016 ou o mais tardar em outubro, pois faço um calendário onde distribuo as pranchas pelos dias, conforme o meu ritmo de trabalho. No entanto depois de pronto da minha parte há a edição, o que me ultrapassa, e neste caso específico é um pouco complexa, pois trata-se de um livro a ser distribuído no Arquipélago dos Açores e simultaneamente no continente. Ora estas distribuições são separadas, por isso o Eco Museu do Corvo tem estado a tratar desse pormenor com a Secretaria Regional. Mas posso garantir-lhe que haverá vários lançamentos e apresentações. Começaremos pelo Corvo, em que estarei presente, claro, depois no continente em vários sítios, Lisboa, Amadora, Beja e outros a combinar, também sempre com a minha presença. O BDBD Blogue dará atempadamente essa informação e terei muito gosto em te-lo presente em qualquer desses locais, se tiver disponibilidade para tal.
      Grato pelo interesse.
      Disponha
      Atenciosamente
      José Ruy

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